A morte que já vivemos

Esse é o nosso grande erro: pensar que nos angustiamos pela morte que virá. A maior parte da morte já veio e já se foi. O tempo que passou pertence à morte. Há uma ilusão persistente, quase cínica, em crer que a morte é um evento futuro. Como se ela estivesse marcada no calendário, esperando sua hora, enquanto vivemos livres de sua presença. Mas a verdade mais aguda e inquietante é que a morte não é apenas aquilo que um dia virá — ela é tudo aquilo que já se foi. Cada segundo desperdiçado, cada amor não vivido, cada gesto que calamos por medo, cada caminho que não tomamos por comodidade... tudo isso é morte em sua forma mais sutil e silenciosa. Não como o corte súbito de um fim, mas como uma erosão contínua do que poderíamos ter sido. A morte futura assusta, sim. Mas é a morte do passado — a parte da vida que perdemos por desatenção ou covardia — que mais nos condena. Seneca nos alertava: “Não é que temos pouco tempo de vida, mas que desperdiçamos muito.” A morte já está em nós — nas m...