Cuidado com a boca que traz: ela também leva o que você disse


Poucas coisas revelam tanto sobre o caráter de alguém quanto a forma como usa as palavras. Quando ouvimos uma fofoca, é comum acharmos que estamos apenas recebendo uma informação inofensiva. Mas há uma verdade dura e simples: a boca que traz a fofoca é a mesma que leva o seu comentário adiante. Aquilo que você falou no calor da emoção, achando que estava em um espaço seguro, pode virar combustível para boatos, mal-entendidos e até inimizades. Não se trata apenas de moralismo, mas de sabedoria prática para proteger sua paz e sua reputação.

O filósofo grego Sócrates já nos alertava com seu famoso “teste dos três filtros” antes de falar algo sobre alguém: é verdade? é bom? é útil? Se não passa por esses três critérios, talvez seja melhor não dizer nada. Essa filosofia simples é um antídoto contra o veneno da língua solta. Em tempos de redes sociais, onde tudo circula rápido, essa regra é ainda mais valiosa. Um comentário mal colocado, mesmo sem maldade, pode ser distorcido e usado contra você por quem se alimenta de intrigas.

A fofoca tem uma natureza traiçoeira. A socióloga francesa Dominique Picard, no livro Politesse, savoir-vivre et relations sociales, explica que a fofoca funciona como um “instrumento de coesão social”, mas também como uma arma de exclusão. Ou seja, enquanto pode parecer que aproxima as pessoas ao compartilhar informações, também cria divisões profundas ao gerar julgamentos, rótulos e conflitos. Quem participa disso está sempre em risco de ser a próxima vítima. Por isso, quando alguém vem até você falar de outro, pense: o que essa pessoa dirá de mim quando eu não estiver presente?

A sabedoria espiritual de várias tradições também reforça esse cuidado com a fala. No livro de Provérbios, na Bíblia, está escrito: “O mexeriqueiro revela o segredo, mas o fiel de espírito o encobre” (Provérbios 11:13). Isso nos lembra que a verdadeira integridade se revela no silêncio compassivo, não na verborragia vazia. Espiritualmente, o autocontrole da língua é sinal de maturidade. Falar menos e ouvir mais é uma forma de preservar não só a sua alma, mas também a dos outros.

Mahatma Gandhi, conhecido por sua prática do silêncio, dizia: “Fale apenas se for melhorar o silêncio”. Essa reflexão nos desafia a repensar o impulso de comentar sobre tudo e todos. Num mundo onde as palavras muitas vezes são armas, escolher o silêncio é um ato de coragem.

Por fim, vale lembrar: toda vez que você comenta algo para alguém que vive falando dos outros, você está confiando uma parte de si a um mensageiro que não tem compromisso com o sigilo. Então, da próxima vez que alguém vier com uma fofoca, reflita: será que essa pessoa merece ouvir o que eu penso? Melhor ainda: será que vale mesmo a pena comentar? O silêncio, muitas vezes, é mais forte do que qualquer opinião.

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