Não tema a grandeza. Tema apenas perdê-la por dentro enquanto a conquista por fora


Muitas pessoas sonham com a grandeza. Querem ser lembradas, conquistar poder, reconhecimento, riqueza. Mas, como já alertava Sêneca em suas Cartas a Lucílio, “não é o homem que tem pouco, mas o que deseja mais, que é pobre”. O perigo não está em buscar grandes feitos, mas em perder a grandeza interior enquanto se coleciona troféus externos. É fácil ser visto como gigante por fora e, ao mesmo tempo, sentir-se pequeno por dentro.

A história está repleta de exemplos de homens e mulheres que chegaram ao topo e descobriram o vazio. Tolstói, em sua obra Confissão, relatou o desespero de perceber que, apesar da fama como escritor, sua vida não tinha sentido verdadeiro. Ele possuía tudo o que muitos invejariam, mas se via em colapso espiritual. O que nos mostra que não basta conquistar a admiração dos outros se o coração se sente em ruínas.

Max Weber, sociólogo alemão, escreveu em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo que a busca desenfreada por sucesso econômico e prestígio social pode aprisionar o ser humano numa “gaiola de ferro”, onde os valores interiores são sacrificados em nome da produtividade e da imagem. Essa reflexão ecoa até hoje: de que adianta subir os degraus da escada se ela está apoiada na parede errada?

O verdadeiro desafio, portanto, não é conquistar a grandeza, mas manter-se inteiro diante dela. Mahatma Gandhi dizia que “a grandeza de uma pessoa não está em quanto ela acumula, mas em quanto é capaz de servir”. O serviço ao próximo, o cultivo da humildade e da coerência interior são a blindagem contra o vazio que o sucesso pode trazer. A grandeza externa passa, mas a grandeza moral permanece.

Na prática, pense no atleta que se dedica anos para vencer uma medalha olímpica. A glória dura minutos no pódio, mas o que o sustenta depois é a disciplina, a resiliência e a integridade que cultivou no processo. Ou no empreendedor que ergue uma empresa de sucesso, mas que só encontra paz ao usar seus recursos para melhorar a vida da comunidade. A grandeza verdadeira não está no holofote, mas naquilo que se constrói em silêncio.

Nietzsche, no livro Assim Falou Zaratustra, afirmou que “o homem é algo que deve ser superado”. Essa ideia pode soar dura, mas nos lembra que a luta mais árdua não é contra os outros, mas contra nossas próprias fraquezas e ilusões. Crescer por dentro exige mais coragem do que brilhar por fora.

Por isso, não tema a grandeza externa. Busque-a se ela for fruto de seu talento e esforço. Mas tema, sim, a possibilidade de se perder no caminho, de se corromper por dentro enquanto o mundo o aplaude por fora. A grandeza que vale a pena não é a que impressiona os olhos dos outros, mas a que fortalece a sua própria alma. Afinal, como disse Aristóteles em Ética a Nicômaco, “a felicidade depende de nós mesmos” — e ela nunca será fruto apenas das conquistas externas, mas da harmonia interior que conseguimos preservar.

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