A máscara da lealdade no amor


O amor, tão celebrado como incondicional, muitas vezes revela sua face mais crua: ele é leal apenas enquanto serve ao desejo ou ao bem-estar de quem o experimenta. Não é difícil amar quando o outro nos devolve prazer, segurança, status ou sentido. Mas quando o amor exige renúncia, disciplina e perseverança em meio ao desconforto, sua suposta lealdade é testada. Quantos juramentos eternos já se desmancharam na primeira fricção com a realidade? Quantas promessas de “sempre estarei aqui” evaporaram quando o “estar” deixou de ser conveniente?

Essa é a tensão: o amor como emoção é instável, mas o amor como decisão é exigente. A maioria vive o primeiro; poucos sustentam o segundo. O líder, o pai, o amigo, o amante que se apoia apenas no amor-sentimento se tornará volúvel e, cedo ou tarde, infiel ao que dizia valorizar. Já aquele que transforma o amor em um ato de vontade — firme, lúcido, corajoso — transcende a utilidade imediata e entra na esfera do compromisso.

Espiritualmente, essa reflexão toca o nervo mais profundo: o amor verdadeiro só floresce quando rompe a prisão do ego. Enquanto amar significar apenas “o que ganho”, não passará de reflexo do narcisismo. Amar é também escolher perder — perder razão, perder conforto, perder tempo, perder orgulho. E, paradoxalmente, é nessa perda que se revela a grandeza de quem ama.

Mas não confundamos: não se trata de se sacrificar de modo cego ou masoquista, nem de aceitar abusos sob a bandeira do amor. A questão é mais elevada: você é capaz de amar alguém mesmo quando isso não lhe traz benefício imediato? É possível permanecer fiel a um valor, a um pacto, a uma pessoa, quando o vento sopra contra?

Se a sua lealdade no amor depende apenas da conveniência, ela não é lealdade, é contrato de interesse. O verdadeiro amor — humano, ético, espiritual — exige coragem para permanecer quando não há vantagem, apenas sentido.

Eis a provocação que deixo a você:

Você ama porque o outro lhe serve ou porque sua vida encontra mais verdade ao permanecer fiel, mesmo quando não há recompensa?

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