Se você quer voar cerque-se de águias, não de galinhas
A vida, como um voo, depende menos do vento e mais das asas com as quais decidimos atravessar os céus. E ainda mais: depende da companhia com que decidimos voar. A frase — “Se você quer voar, cerque-se de águias, não de galinhas” — soa como um ditado popular, quase clichê, mas contém uma sabedoria milenar travestida de simplicidade. Porque voar, de verdade, não é sobre altitude física, mas sobre amplitude de visão, independência de pensamento, coragem para a solidão e firmeza para suportar as correntes das alturas. É sobre a vida que você quer viver e o tipo de ser humano que você aceita se tornar — e isso é moldado, inegavelmente, por quem caminha (ou voa) ao seu lado.
Galinhas ciscam. Vivem no chão. São presas do hábito, da rotina rasa, da conformidade do galinheiro. Alimentam-se do que lhes é jogado, não do que são capazes de caçar. Sua existência é delimitada por cercas — mentais, emocionais e espirituais. São sociáveis, sim, mas também prisioneiras da aprovação coletiva. Preferem o conforto de estar entre iguais à dor de enfrentar a própria grandeza. As galinhas representam, metaforicamente, os que vivem de olhos baixos, satisfeitos com o mínimo, convencidos de que nasceram para apenas sobreviver.
As águias, em contrapartida, não se alimentam de migalhas. Não vivem em bandos. Voam solitárias, muitas vezes em silêncio, mas com precisão, visão e propósito. Sobem mais alto porque se recusam a viver baixo. Buscam picos, enfrentam tempestades, e usam os ventos contrários como impulso. Suas companhias são raras, mas essenciais — pois uma águia reconhece outra não pela aparência, mas pelo espírito. Voar com águias é suportar a responsabilidade da altitude, é aceitar o desconforto de crescer, é renunciar à mediocridade confortável.
Na prática da liderança, isso significa selecionar com precisão os conselheiros, os amigos, os sócios e até os livros que você permite formar sua mentalidade. Cercar-se de águias é alinhar-se com pessoas que te desafiam a pensar mais alto, que não toleram desculpas, que te chamam à responsabilidade, que vivem com integridade e visão. É estar entre aqueles que não invejam sua ascensão, mas que a exigem. Que não te aplaudem por qualquer passo, mas te confrontam quando você se sabota. Que não medem valor por títulos, mas por coerência de vida.
No campo espiritual, a metáfora das águias fala sobre a elevação da alma. As Escrituras dizem: “Os que esperam no Senhor renovarão as suas forças, subirão com asas como águias...” — porque confiar no divino é abandonar o controle, é aceitar que o voo começa onde a terra termina, é se desprender da segurança do galinheiro para entrar no mistério do céu. Mas essa confiança exige purificação, silêncio interior, coragem para a entrega. A espiritualidade das águias não é de rituais automáticos, mas de encontro real com o Eterno. Um voo solitário que, paradoxalmente, te conecta com o Todo.
Mentalmente, a decisão por se cercar de águias é o rompimento com as vozes que diminuem, com os padrões que nivelam por baixo, com os discursos de “não dá”, “sempre foi assim”, “melhor não tentar”. É a escolha consciente por um ambiente de elevação: ideias elevadas, conversas significativas, aprendizados constantes. É saber que pensamentos são sementes — e que galinhas cultivam medo, enquanto águias plantam coragem.
Emocionalmente, há um custo. Voar com águias é conviver com exigência. Elas não vão te mimar. Não te elogiam para manter a amizade. Não te protegem da dor, mas te mostram como atravessá-la com honra. Pode doer, sim. Pode parecer frio. Mas é um amor que transforma — e não que acomoda. Um tipo de aliança que não se baseia em conveniência, mas em propósito compartilhado.
Essa metáfora, portanto, é um ponto de decisão. Quem são as “galinhas” à sua volta? Quais padrões, pessoas, ambientes ou ideias te mantêm no chão? E quem são as “águias” — aquelas poucas vozes que te elevam, desafiam, expandem e despertam o que há de mais nobre em você?
Chega um momento em que voar exige afastar-se. Romper. Silenciar. E escolher, intencionalmente, a altitude. Não é sobre rejeitar o outro com arrogância, mas sobre honrar o chamado que há em você. E o seu chamado não é para ciscar — é para voar.
Então eu te pergunto:
Você está pronto para enfrentar a solidão da altitude em troca da liberdade do céu?
A quem você precisa se aproximar — e de quem você precisa se afastar — para começar a voar?
Está disposto a trocar aprovação por verdade? Segurança por significado? Companhia por destino?
Seu voo começa com essa escolha silenciosa: com quem você decide caminhar.
Ou, mais precisamente, com quem você decide voar.
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