Viver ou apenas durar? O dilema da existência


A pergunta coloca em jogo duas formas distintas de estar no mundo: viver intensamente ou simplesmente passar pelo tempo, resistindo à inevitabilidade da morte. Mas o que realmente significa viver? E o que significa apenas durar?

Se entendermos "durar" como a simples manutenção da existência biológica, sem grandes riscos, sem sair da zona de conforto, estamos falando de uma vida pautada pela repetição e pela previsibilidade. Dostoievski, em Memórias do Subsolo, fala da mediocridade como uma prisão confortável: o homem se acomoda na rotina porque o desconhecido o apavora. A duração, nesse sentido, é um ato de autopreservação. Quem apenas dura escolhe a segurança, evita a dor e a incerteza, mas também se priva do inesperado, do sublime e do caos criativo que a vida pode proporcionar.

Por outro lado, viver de verdade implica intensidade, entrega e, muitas vezes, sofrimento. Nietzsche, ao falar do amor fati—o amor ao destino—, propõe que a vida só vale a pena quando a abraçamos em toda a sua plenitude, inclusive nos momentos difíceis. Quem realmente vive assume riscos, experimenta alegrias e tristezas, aceita que a existência é um jogo de forças e não uma linha reta previsível. Sartre diria que viver é assumir a responsabilidade da própria liberdade, criando significado onde, à primeira vista, só há um universo indiferente.

Mas será que é possível viver sem, ao menos em alguns momentos, apenas durar? Não estaríamos todos, em maior ou menor grau, oscilando entre esses dois estados? Até mesmo os grandes aventureiros têm momentos de monotonia e espera. Camus, em O Mito de Sísifo, nos lembra que há beleza na própria repetição do absurdo, desde que a encaremos com consciência. O que diferencia viver de durar, no fim das contas, talvez seja o modo como percebemos a existência: estamos apenas resistindo à morte ou estamos dançando com a vida?

A questão, então, se torna uma escolha pessoal. Há quem prefira a segurança da duração e há quem se jogue na intensidade da vida sem olhar para trás. Mas talvez a sabedoria esteja em encontrar o equilíbrio: saber quando arriscar e quando se preservar, quando acelerar e quando respirar. Afinal, viver não é só queimar rápido, mas também saber apreciar o percurso.

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