A bondade e a virtude: um diálogo imaginário com Sócrates
Interlocutor: Mestre Sócrates, apresento-lhe esta provocação: perguntaram a José Saramago como homens sem Deus podem ser bons, e ele respondeu com outra pergunta: "Como podem homens com Deus serem tão maus?" O que pensa sobre isso?
Sócrates: Ah, meu caro amigo, que pergunta intrigante! Como de costume, não posso oferecer uma resposta definitiva, mas convido-te a filosofar comigo. Dize-me: o que significa ser bom? A bondade, porventura, vem de fora do homem, ou está em sua própria alma?
Interlocutor: Muitos acreditam que a bondade vem de Deus, de algo transcendente. Mas Saramago parece questionar isso, apontando que até aqueles que afirmam viver sob as leis divinas podem ser maus.
Sócrates: Então, não seria prudente perguntar se a bondade é algo que depende do conhecimento, e não apenas de crenças externas? Pois te digo: quem age com maldade o faz porque carece de sabedoria. Não é a ignorância a raiz de todos os erros humanos?
Interlocutor: Quer dizer que a maldade dos homens "com Deus" seria fruto de sua falta de conhecimento do que é o bem?
Sócrates: Exato! Não importa se um homem acredita em Deus ou não. Se ele não conhece o verdadeiro bem, como poderá ser virtuoso? E este conhecimento não é algo que se recebe como um dom dos céus, mas que se busca por meio do questionamento, do diálogo e da reflexão.
Interlocutor: Então, para ti, a questão de Saramago está mal colocada?
Sócrates: Não diria isso, mas acho que ele nos conduz a uma boa investigação. Pois se há homens com Deus que são maus, e homens sem Deus que são bons, então não podemos concluir que a bondade depende de uma entidade divina. A bondade, meu amigo, é fruto da alma que se volta para a virtude, que busca conhecer o bem e praticá-lo, independentemente de crenças externas.
Interlocutor: Mas e se alguém dissesse que é impossível ser bom sem Deus?
Sócrates: Eu lhes perguntaria: "O que é Deus para vós?" Pois, se Deus é o próprio bem, então talvez sejamos todos participantes de sua essência ao buscarmos a virtude. E se Deus for uma invenção humana, ainda assim a bondade existe, porque está na razão e no cuidado com o outro.
Interlocutor: Então, para ti, a bondade é uma questão de sabedoria, não de fé?
Sócrates: Precisamente. Quem conhece o bem não pode agir de outra forma senão conforme o bem. Por isso, a tarefa mais nobre não é acreditar ou desacreditar em Deus, mas questionar, examinar e conhecer a si mesmo. Afinal, como digo sempre: uma vida não examinada não vale a pena ser vivida.
Interlocutor: Vejo que Saramago, ao fazer essa pergunta, talvez também quisesse provocar esse tipo de reflexão.
Sócrates: E nisso ele foi sábio, pois nada é mais valioso do que uma pergunta que nos convida a pensar. Se desejas ser bom, meu amigo, busca antes a verdade, e não te preocupes com aquilo que não podes provar. A bondade está no que somos, não no que professamos.
Muito inteligente, parabéns
ResponderExcluir