A existência precede a essência: o poder de criar seu próprio significado
A frase "A existência precede a essência", central no existencialismo de Jean-Paul Sartre, traz uma provocação poderosa: não nascemos com um propósito definido, mas somos livres para moldar quem somos através de nossas escolhas. Sartre, em sua obra O Existencialismo é um Humanismo (1946), argumenta que, ao contrário de objetos criados para uma função específica, os seres humanos existem primeiro e só depois constroem sua essência. Essa ideia quebra a noção de um destino fixo, oferecendo, ao mesmo tempo, liberdade e responsabilidade sobre a própria vida.
Imagine um escultor diante de um bloco de mármore: ele não encontra a obra já feita, mas cria algo a partir de suas decisões. Assim somos nós, moldando nossas vidas a partir de escolhas diárias. Isso pode ser inspirador e assustador ao mesmo tempo. Inspirador porque significa que não estamos presos a definições externas; assustador porque assumir total responsabilidade por quem nos tornamos exige coragem. Sartre escreve que "o homem está condenado a ser livre" – uma liberdade que não pede permissão, mas que também não permite culpar o destino por nossos erros.
Um exemplo prático dessa filosofia é a história de Viktor Frankl, um psiquiatra austríaco sobrevivente do Holocausto. Em seu livro Em Busca de Sentido (1946), Frankl descreve como encontrou significado até nos horrores de um campo de concentração. Ele não podia controlar as circunstâncias externas, mas escolheu como reagir a elas, reforçando a ideia de que somos autores do nosso significado. Frankl dizia: “Tudo pode ser tirado de um homem, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância.”
No entanto, esse conceito também traz um dilema moral. Se somos totalmente livres, como discernir o que é certo ou errado? Sartre defende que nossas escolhas devem ser feitas com a consciência de que servem como exemplo para toda a humanidade. Ele afirma que, ao escolhermos algo, declaramos implicitamente que acreditamos que essa escolha é válida para todos. É um chamado à autenticidade, mas também à responsabilidade ética.
Essa perspectiva não elimina a espiritualidade. Na Bíblia, o livre-arbítrio é central. Em Deuteronômio 30:19, Deus diz: "Coloquei diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida." Essa passagem ressoa com a ideia de que temos liberdade para escolher, mas somos convidados a usar essa liberdade de maneira construtiva e significativa. Assim como Sartre, o cristianismo valoriza o poder transformador das decisões conscientes, mas acrescenta uma dimensão de conexão divina.
Para aplicar esse conceito em sua vida, comece assumindo a autoria do que você é. Se sente que vive preso a papéis ou expectativas alheias, pergunte-se: quais escolhas realmente refletem quem eu quero ser? Sartre nos lembra que, ao rejeitarmos a essência pré-definida, abraçamos a chance de nos reinventar continuamente.
Portanto, viver sob a máxima de que "a existência precede a essência" é um convite para deixar de ser mero espectador e se tornar o criador da própria narrativa. Não há essência esperando ser descoberta; há apenas a liberdade de ser – e essa, talvez, seja a essência mais genuína de todas.
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