Mais idade, menos felicidade: o paradoxo do progresso moderno
Vivemos numa era onde o progresso tecnológico e a melhoria das condições de vida são inegáveis. A medicina avançou, a mortalidade infantil caiu drasticamente, e a expectativa de vida aumentou para níveis impensáveis algumas décadas atrás. Tudo indica que o mundo está se tornando um lugar melhor para se viver, mas, curiosamente, a felicidade não parece acompanhar essa tendência. O World Happiness Report, conduzido pela Universidade de Oxford, revela que, especialmente entre os jovens, os índices de felicidade vêm declinando, particularmente na Europa e América do Norte. Então, por que mais longevidade e conforto não se traduzem em mais felicidade?
Uma das explicações está enraizada na própria natureza humana. Conforme envelhecemos, acumulamos responsabilidades, preocupações e frustrações. A juventude é frequentemente associada a um período de liberdade, possibilidades ilimitadas e sonhos grandiosos. Porém, com o passar dos anos, esses sonhos muitas vezes encontram a realidade dura e inflexível da vida adulta. Pressões sociais, expectativas profissionais e a busca incessante por sucesso e status geram um fardo emocional. Além disso, vivemos numa sociedade em que somos constantemente bombardeados por comparações, principalmente através das redes sociais, que servem como vitrines de vidas aparentemente perfeitas e inalcançáveis.
Essa desconexão entre o que se vê e o que se vive gera uma insatisfação crescente. A socióloga americana Jean Twenge, autora de iGen, destaca que, para muitos jovens, as redes sociais são uma ferramenta de comparação constante, amplificando sentimentos de inadequação e solidão. De acordo com ela, há uma ligação direta entre o uso intensivo de redes sociais e a diminuição do bem-estar emocional. Ou seja, mesmo que nossas condições materiais melhorem, o sentimento de felicidade é afetado negativamente pelo aumento da exposição e comparação social.
Há também a questão do sentido e propósito. Victor Frankl, renomado psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, escreveu em Em Busca de Sentido que o ser humano é movido por um propósito maior, algo que transcende a própria existência. Na sociedade atual, muitos jovens têm acesso a bens materiais e oportunidades que seus avós jamais poderiam sonhar, mas falta-lhes um propósito profundo e enraizado que dê sentido à vida. Com o enfraquecimento de tradições, laços familiares e comunitários, a sensação de pertencimento, que antes proporcionava uma base sólida para a felicidade, parece ter se dissolvido, deixando um vazio que o consumismo e o hedonismo não conseguem preencher.
Ademais, o filósofo grego Aristóteles defendia que a felicidade está intimamente ligada à virtude e à prática constante do bem. Segundo ele, a verdadeira realização pessoal vem do crescimento moral e do cultivo de virtudes, não da busca incessante por prazer ou satisfação imediata. O mundo moderno, entretanto, tem um foco exagerado no carpe diem e em prazeres instantâneos. Esse hedonismo momentâneo, embora traga uma sensação passageira de euforia, não contribui para uma vida verdadeiramente feliz. Afinal, os efeitos são efêmeros e muitas vezes seguidos de vazio e frustração.
Por outro lado, também existe o fator da sobrecarga de informação. A nossa geração é bombardeada com notícias alarmantes e preocupações globais, como mudanças climáticas, crises econômicas e tensões políticas. Isso gera um estado contínuo de ansiedade e insegurança, algo que, segundo o psicólogo Barry Schwartz em seu livro The Paradox of Choice, contribui para a diminuição do bem-estar. Ter conhecimento de todas as tragédias e desafios ao redor do mundo, em tempo real, faz com que muitos se sintam impotentes e sobrecarregados.
Em paralelo, a Bíblia, em Eclesiastes 1:18, nos lembra que “quanto maior a sabedoria, maior o sofrimento”. O versículo traz à tona a ideia de que, à medida que envelhecemos e adquirimos mais conhecimento sobre as realidades da vida, também carregamos o peso dessa sabedoria. Essa visão parece se alinhar com o sentimento moderno de que, ao ganhar mais consciência dos problemas e responsabilidades do mundo, a felicidade se torna mais difícil de alcançar.
O caminho para reverter essa tendência pode estar em buscar uma vida mais simples e com propósito. Em vez de focar na quantidade de anos vividos, devemos focar na qualidade e no significado desses anos. Cultivar relações autênticas, investir tempo em atividades que promovam crescimento pessoal e espiritual, e redescobrir o valor do serviço ao próximo são maneiras de transformar a longevidade em felicidade verdadeira. A ciência já mostra que atos de bondade e gratidão promovem liberação de endorfinas e aumentam a sensação de bem-estar.
Enfim, enquanto nossa sociedade avança em tecnologia e longevidade, é necessário relembrar que a felicidade depende menos do quanto vivemos e mais do porquê e de como vivemos.
Eu que já estou com 58 anos costumo dizer que é a pior idade! A melhor é aos 15 anos, sensação de que não morre nunca nem adoece.
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