Burnout é a ausência de si mesmo: como o esvaziamento interno reflete no mundo externo


O burnout não é apenas sobre cansaço físico ou mental extremo. É uma desconexão profunda com quem somos, um afastamento de nossa essência. Quando estamos em burnout, nos sentimos vazios, desprovidos de motivação e perdidos em meio às pressões do dia a dia. O que poucos percebem é que essa sensação é, na verdade, a ausência de si mesmo. Como disse o filósofo Søren Kierkegaard, “A maior desgraça é perder a si mesmo e não perceber”. Esse esvaziamento ocorre de forma sutil, até que um dia acordamos e já não sabemos mais quem somos.

O burnout começa quando começamos a viver segundo as expectativas dos outros, esquecendo das nossas próprias. O excesso de demandas, o desejo de ser sempre produtivo e eficiente nos afasta do que realmente nos traz significado. A sensação de esgotamento emocional surge quando abandonamos nossos valores, nossos prazeres e, acima de tudo, nosso tempo de reconexão interior. O psicólogo Carl Jung já apontava: “Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta”. No burnout, não estamos mais despertos para nós mesmos, estamos apenas respondendo automaticamente às demandas externas.

A Bíblia também traz reflexões valiosas sobre isso. Em Mateus 16:26, Jesus questiona: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?”. Essa pergunta é especialmente relevante no contexto do burnout, pois ao priorizarmos conquistas materiais ou o sucesso profissional, podemos acabar negligenciando nossa saúde mental, nossa paz interior e nossos relacionamentos. Perdemos nossa alma no sentido de nos desconectarmos de tudo o que nos faz verdadeiramente humanos – nossa capacidade de sentir, de estar presente, de amar e de nos cuidar.

Outro ponto crítico no burnout é o sentimento de impotência. A pessoa sente que não importa o quanto se esforce, jamais será o suficiente. A sociedade moderna celebra o hustle, a produtividade extrema, como se fosse o único caminho para o sucesso. Mas isso tem um preço. A filósofa francesa Simone Weil falou sobre a importância do tempo para si mesmo, afirmando que “a atenção é a forma mais rara e pura de generosidade”. Quando estamos em burnout, não somos generosos nem conosco, pois não prestamos atenção às nossas necessidades mais básicas.

O caminho para sair do burnout começa com a reconexão com a própria essência. Isso significa dar espaço para a introspecção, para refletir sobre o que realmente importa e resgatar atividades que tragam prazer e sentido. É também um processo de autocompaixão. Aceitar que não precisamos ser perfeitos, que o descanso é tão importante quanto o trabalho, e que nosso valor não está apenas no que produzimos, mas em quem somos. O autocuidado, que muitos veem como um luxo, é na verdade uma necessidade.

O burnout é o reflexo de uma vida desconectada da própria essência. Quando esquecemos de nós mesmos, perdemos o brilho, a energia e a motivação. Retomar o controle exige coragem para desacelerar, para dizer não ao que não nos serve e sim ao que nos nutre. Como ensinou Aristóteles, “A felicidade depende de nós mesmos”. E essa felicidade só pode ser alcançada quando estamos inteiros, conectados com quem realmente somos, sem permitir que o mundo externo nos esvazie completamente.

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