As pessoas são como música: entre poesia e ruído


Cada pessoa que encontramos tem uma vibração única. Assim como em uma playlist eclética, há momentos em que cruzamos com verdadeiras sinfonias de alma — gente que, como poesia, fala ao coração com profundidade e significado. Mas também há quem faça apenas barulho, pessoas que não se afinam com nossa frequência e deixam no ar a sensação de confusão e dispersão. Essa metáfora não é apenas uma comparação poética; é um convite à reflexão sobre como escolher nossos círculos e quem permitimos ecoar em nossa vida.

Pessoas que são como poesia têm uma presença suave e ao mesmo tempo marcante. Elas trazem significado em cada gesto e sabem ouvir tanto quanto falar. São aquelas que, como dizia o filósofo Sêneca, “não desperdiçam palavras, mas fazem com que cada uma importe”. Seus conselhos e atitudes ressoam como um acorde perfeito, deixando uma marca duradoura em quem as encontra. Essas pessoas não estão isentas de problemas, mas transformam suas experiências em aprendizado e partilham essa sabedoria.

Já outras são apenas ruído. Não há melodia, apenas interferência. Em vez de agregar, confundem; em vez de construir, dispersam. Provérbios 13:20 ensina que “Quem anda com os sábios será sábio, mas o companheiro dos tolos sofre aflição”. Essa passagem nos lembra que o tipo de companhia que mantemos afeta diretamente a qualidade da nossa própria “música interior”. Cercar-se de barulho constante nos drena e tira a paz. Assim como uma música desafinada, essas relações não oferecem harmonia, mas desordem.

O sociólogo Zygmunt Bauman, em seu conceito de “relações líquidas”, fala sobre a superficialidade das conexões modernas. Muitas pessoas hoje entram e saem da nossa vida sem criar laços significativos, como músicas descartáveis que logo caem no esquecimento. Isso gera a sensação de vazio, pois falta profundidade e continuidade. Para encontrar poesia nas pessoas, é preciso cultivar paciência e discernimento, como quem busca canções raras em meio ao ruído incessante do mundo moderno.

Mas e nós? Como podemos garantir que a música que oferecemos ao mundo seja poesia e não barulho? A resposta está na autenticidade e na intenção. Quando agimos com propósito e compaixão, nossa presença se transforma em uma melodia significativa na vida dos outros. Ser poesia é ser alguém que acolhe, inspira e transforma, mesmo que em pequenas notas. Não é preciso ser perfeito; é necessário apenas ser verdadeiro, como disse Fernando Pessoa: “Vale a pena ser sincero, porque se é sincero como a água.”

No fim, a escolha é nossa: podemos viver cercados de ruído ou buscar, nas pessoas e em nós mesmos, a harmonia da poesia. Que saibamos escolher as melodias que queremos tocar e ouvir ao longo da nossa jornada, pois, como dizia Nietzsche, “Sem música, a vida seria um erro.”

Comentários

  1. O conhecimento expresso nessas palavras nos convida a meditar sobre o tema que é, especialmente nos dias de hoje, de suma importância. Há uma substituição gradativa dos beijos pelos bits, dos apertos de mão pelo premer das teclas, do abraços pelos "emoji".
    Parabéns pelo empenho em resgatar nossa humanidade.

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